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CONTO: UMA FESTA DE DESCOBERTAS

 

Uma Festa de Descobertas

Era uma tarde bem ensolarada, e como estava atrasada para a escola, Liliana resolveu pegar o atalho por um grande terreno que havia ao lado da escola, porém, estava tomado por um acampamento cigano que se instalara ali fazia uma semana.
Era um grande círculo com tendas ao redor e veículos estacionados ao lado. No centro desse terreno havia um espaço com vestígios de uma fogueira. Muito provavelmente acendiam-na ao entardecer.
Era outono, estava calor durante o dia, mas a noite refrescava um pouco. Liliana passando entre algumas tendas, se aproximou da fogueira se dirigindo a saída que dava ao lado do muro da escola. Mas, antes que saísse do acampamento, uma jovem de dentro de uma tenta lhe chamou:
— Ei garota linda! Espere um pouco. Ao olhar para você percebo sua aura tão iluminada e vibrante. Você me chamou atenção viu! — Ao se aproximar de Liliana, lhe fitando sorridente ainda completou:
— Que linda você é. Eu adoraria contar sobre sua sorte pelas linhas da sua mão, seus desejos, seus amores. Você topa? — Liliana apreensiva com a questão do horário da escola, sorriu e lhe respondeu educadamente:
— Eu realmente agora não posso, estou atrasada para entrar na escola, mas eu topo sim outro dia. Me chamo Liliana e você? — ela respondeu:
— Me chamo Dara, e eu te aguardo a hora que você quiser. Venha até minha tenda e eu te conto tudo.
Nisso Liliana correu para o portão da escola antes que ele se fechasse e entrou.
Liliana conversa com suas colegas durante o intervalo e conta sobre o acampamento cigano e também que ao cruzá-lo havia sido convidada por uma cigana para ler a sorte.
Sua melhor amiga Débora ficou aterrorizada, lhe lembrando das várias histórias que contam sobre os ciganos. Chamou Liliana de louca, por ter cruzado sozinha o acampamento.
Liliana ainda tentou dizer a Débora que não era mais uma criancinha e que se essas histórias que ela estava contando fossem verdadeiras, já teriam tomado providências e tirado os ciganos do lado da escola. Ressaltando ainda a amiga, que até luz elétrica disponibilizaram a todo acampamento.
Já as outras amigas acharam o máximo, e já queriam saber quanto a cigana cobrava para ler a sorte. Se a roupa da cigana era bonita, se usava cabelo preso ou solto.
As colegas de Liliana ficaram entusiasmadas com o acontecimento sobre ler a sorte na palma das mãos e dos fatos históricos associados ao povo cigano, ali rapidamente lembrados. O que despertou nelas grande animação para saber também sobre os homens daquele acampamento, todas estavam solteiras.
Curiosas, sobem no muro da escola para espiar o acampamento. E começaram a relatar o que estavam vendo:
— Uauuuuu! — grita a mais escandalosa delas – Liliana as alerta, para falarem mais baixo.
As meninas continuam a descrever o que viam até que toca o sinal e voltam para a aula.
No final das aulas, Liliana e Débora se despediram das colegas e como moravam próximas, foram embora juntas para o mesmo lado.
Débora medrosa quis atravessar para o outro lado da rua, passando bem longe do acampamento cigano. Liliana passou no canto do muro de divisa com o acampamento com os olhos bem cumpridos para ver se via alguma coisa lá dentro, mas sua amiga a puxava pelo braço para irem embora rápido. Era outono, o frescor do entardecer com o sol se ponto já pedia vestir uma blusa mais encorpada.
No dia seguinte Liliana fez o inverso do anterior, saiu apressada, nem chamou sua amiga Debora para irem à escola. Ela queria encontrar Dara e saber mais sobre o povo cigano e a leitura da sorte pelas linhas das mãos. Ficou bastante curiosa e como ela havia sido tão gentil ao convidar, foi desprendida de qualquer medo.
Chegando ao acampamento foi direto a tenda onde Dara a notou passando à frente. Chamou-a pelo nome. Uma senhora mais velha muito bonita cheia de pulseiras com um lenço no cabelo a atendeu. Pergunto-lhe o que desejava. Liliana logo lhe disse que procurava por Dara.
Dara ouve a conversa e se aproxima explicando a mãe que era uma nova amiga. A mãe da ciganinha se retira em direção a outra tenda enquanto Dara pega Liliana pela mão e a leva para dentro da tenda. Sentam-se em algumas almofadas no chão e começam a tagarelar sem parar.
Liliana se perde entre tantas perguntas que gostaria de fazer. E, conforme Dara ia lhe respondendo o envolvimento das duas naquele bate papo parecia de amigas de longa data. Gargalhavam muito, outras vezes sussurravam coisas. Estavam se divertido muito que Liliana quase perde o horário da aula de novo.
Primeiro toque do sinal da escola já havia sido dado. Dara ajudou a nova amiga a se levantar das almofadas, lhe dando um abraço e pedindo que voltasse mais vezes, reafirmando o convite de ler a sua sorte.
Liliana sai correndo com seus livros, bem atrapalhada quase tropeça nas cordas que sustentavam a barraca, Dara a segura firme para que ela não caísse. Aproveita e lhe conta sobre a festa no acampamento que ocorreria naquele final de semana, que seria em comemoração ao equinócio de Outono.
Dara não resistiu e a convidou para a festa permitindo a Liliana levar as amigas que quisesse.
Atônita com o convite, perguntava sobre a roupa que seria adequada, que horas começaria, se era para levar algo para comer. Ficou animada com o convite, assim como Dara sentiu seu entusiasmo.
E então a pegou suavemente pelas mãos e lhe acalmando disse que não se preocupasse com a roupa, nem em levar nada, que seu povo adorava festas e gente feliz, que ela então fosse com o indispensável, com toda a sua alegria.
Liliana passou o tempo todo perdida na aula daquele dia. Pensando em Dara, de como ela era bonita, charmosa e como havia sido simpática ao convidar para a festa junto à família dela. Ficou ainda mais empolgada depois da conversa com Dara, pois em poucos minutos se tornaram bem próximas, possuíam muitos gostos em comum. Além da alegria vibrante.
Às dezoito horas do Sabado, como indicado pela Dara, as três meninas chegaram à frente do acampamento para entrar na festa mais esperada da vida delas.
Já era possível ver do lado de fora, as labaredas da fogueira. O som que vinha de dentro era de violino, violão e uma flauta, música tranquila bem romântica. Isso prometia música de primeira e ao vivo.
As meninas se olharam, checaram os acessórios, a roupa, batom e entraram na festa. Entraram próximo a tenda de Dara. E logo a avistaram, linda e animada.
Ela foi correndo abraçar Liliana e depois cumprimentar as demais. Ao se apresentarem insistia que ficassem bem à vontade. Explicou que seu povo era bastante receptivo, alertou também para que não estranhassem os rituais, apenas curtissem a cultura de um povo feliz com a vida. E, assim as quatro meninas adentram o centro do acampamento.
As meninas sentaram num espaço próximo a fogueira quase ao lado dos músicos, de frente a uma mesa lindíssima repleta de frutas, comidas diversas e uma sangria disposta numa taça gigante de vidro. A decoração estava lindíssima.
Dara chamou a todas para que se servissem da sangria e que ficassem à vontade para comer o que quisessem. Depois de servir uma taça da sangria a Liliana, pegou-a pela mão e foi mostrar o acampamento a ela.
Apontava as tendas, que com a iluminação daquela noite de Lua cheia, pareciam ainda mais coloridas. Ela mostrava cada uma e suas peculiaridades decorativas explicando de quem era a morada.
A grande maioria daquele acampamento eram tios por parte de mãe e pai, e também alguns primos que iam se casando se juntando àquela comunidade.
Enquanto caminhavam entre as tendas, Dara também ia contando sobre alguns costumes do povo cigano, dos casamentos, da rotina e da vida nômade que levavam.
Voltando para o espaço onde a festa acontecia, a música já estava mais animada, todos ou estavam dançando ou tocando algum instrumento. Praticamente todas as famílias do acampamento estavam ali, a volta da fogueira.
Dara puxou sua nova amiga pela mão para se unirem aos demais que dançavam próximos da fogueira. Liliana e suas colegas copiavam a forma como as outras mulheres dançavam fazendo os mesmos gestos e passos mesmo não tendo as mesmas saias rodadas.
Um jovem cigano solteiro se aproximou das três meninas e ofereceu a cada uma delas um leque para usarem na dança igual as demais mulheres da comunidade fariam na próxima dança.
Todas ainda muito desengonçadas seguiam os movimentos das ciganas. Dara se aproximou de Liliana tocando castanholas e com olhar fixo em seus olhos ia lhe rodeando com movimentos de quadris e toques de castanholas. Liliana receptiva acabou melhorando a desenvoltura de sua própria dança, esbanjando sensualidade na troca de olhares com Dara, tanto que foi ovacionada por todos da roda numa comemoração.
Com um instrumento bem diferente um dos rapazes chamava a atenção de todos, pedindo que se afastassem da fogueira formando um grande círculo de mãos dadas.
Dara sinalizava as amigas para que ficassem fora daquela roda, que apenas observassem o ritual que se iniciaria com a dança de seus familiares.
Faziam movimentos com o corpo e diziam algumas palavras, as mulheres giravam com lenços os seus véus coloridos, uma imagem de Santa Sara é apoiada a uma espécie de altar e um banho de folhas secas douradas é dado naquela imagem da Santa.
Um ritual lindo em comemoração ao equinócio de outono era iniciado. Liliana e as meninas ficaram encantadas.
Assim que acabou o ritual, a música animada voltou. E todos voltaram a dançar. Uma taça de vinho branco é servida a todos e um grande brinde é dado na roda a volta da fogueira. Novamente pares se formam e saem a dançar num ritmo bastante animado.
As meninas se jogam na dança convidadas pelos meninos de idades semelhantes à delas. Dara com Liliana formam um par e saem a rodopiar enlaçadas a um véu que Dara possuía.
Todos estavam bem alegres tanto pela sangria quanto pelo vinho servido. Circulavam entre si e a fogueira. Totalmente abstraídos, alegres e dançando ao ritmo dos músicos.
Dara convidou Liliana para deixar a roda e ir até sua tenda. Chegando lá se jogaram nas almofadas uma para cada lado. Liliana não parava de falar da festa, estava deslumbrada, até que percebeu o silêncio de Dara e se virou para ela. Olhos nos olhos em silêncio até que Dara começou a dizer calmamente:
— Sim, a festa foi e está sendo maravilhosa. A tua presença aqui está fazendo toda a diferença do mundo. Se eu morresse essa noite eu iria agradecer a Santa Sara por esse presente que ela me trouxe ... conhecer você nessa cidade foi maravilhoso. — Liliana emocionada toca o rosto de Dara, segura a mão dela desajeitadamente, pois estavam as duas de bruços sobre as almofadas, e lhe diz:
— Ah minha querida, sabe que eu também. Se é pra Santa Sara que tenho que agradecer então:
— Santa Sara agradeço a ti por essa cigana ter me interpelado para ler a minha sorte naquela manhã , porém gostaria de dizer que ela é uma mentirosa, pois até agora não leu a minha mão, amém! – Liliana ajoelhada e de mãos unidas de forma um pouco debochada expressou-se para Dara.
Dara se ri, mas dá um pito nela, dizendo que não estava brincando.
Liliana agora séria, senta-se de frente para Dara e segurando suas mãos delicadamente lhe diz olhando em seus olhos:
— Dara, eu fico assim desgovernada quando algo muito novo acontece comigo e você está sendo o algo mais novo e divino que aconteceu desde que eu me conheço por gente, desculpa! — antes mesmo que Liliana se desculpasse, Dara repousou seus lábios nos lábios de Liliana selando um delicado beijo que foi retribuído com todo carinho. As duas ainda ficaram um tempinho trocando olhares e algumas caricias.
Dado o avançado da hora, voltaram para festa junto de todos e já que uma das meninas precisava sair, todas se despediram.
Dara que já tinha carta de motorista, ofereceu levá-las em suas casas. Deixou Liliana por último. Até ali tudo tinha dado certo como combinado e esperado por elas. As colegas de Liliana estavam felizes com a festa maravilhosa, e Liliana mais ainda com os acontecimentos.
Depois de deixar as meninas em casa, Dara foi então levar Liliana que era a que morava um pouquinho mais distante. No caminho pararam para conversar um pouco. As duas trocaram muitos carinhos.
Conversaram um pouco mais e Dara lhe revelou uma série de dificuldades que enfrentava em sua comunidade. Contudo antes de se despedirem lhe prometeu que na Segunda-feira quando fosse para escola, leria sua sorte.
Para assim não passar mais de mentirosa para Santa Sara. E as duas se abraçaram. Dara deixou Liliana no portão de sua casa e voltou ao acampamento.
Na segunda-feira, Liliana foi para escola com a expectativa de reencontrar Dara e finalmente dar suas mãos a ela para saber o que estava reservado para o seu futuro. Assim que as duas se encontram se abraçaram e se beijaram apaixonadas.
Durante aquele momento Dara fez um convite a Liliana, lhe dizendo que gostaria muito que nas férias escolares viajasse com ela junto do seu povo, para um novo acampamento.
Disse ainda, que se preciso fosse, que a mãe dela conversaria com os pais de Liliana para dar mais segurança sobre o convite e a viagem de férias. Liliana ficou emocionada e confirmou seu desejo de ir nessa viagem na companhia de Dara.
Finalmente Dara se prontificou a fazer a tal leitura das linhas das mãos de Liliana, porém, pediu para que uma prima a fizesse. Dara ficou próxima a fitar apaixonadamente os olhos de Liliana enquanto escutava sua prima dizer:
— Liliana você está prestes a encontrar um novo amor, alguém que lhe fará muito feliz. Uma pessoa muito semelhante a você, cheia de vida e alegria que trará muitos acontecimentos novos em sua vida. Uma pessoa cheia de amor por você. Vejo uma viagem muito feliz e que você irá se divertir muito nessa viagem. Vejo que parece que encontrará seu amor nessa viagem. Vejo muita gente ao seu redor. Vejo que você vai ganhar um presente inesperado também. Que você tem uma família muito companheira que entende você e é muito boa, assim como você também tem muito carinho por sua família. Acabou! É isso que vejo hoje para você. Gostou do que ouviu? — Perguntou a cigana.
— Liliana eufórica respondeu sim várias vezes a cigana.
Assim que a prima de Dara saiu da tenta as duas emocionadas se abraçaram e comemoram com um longo e molhado beijo na boca. A sorte havia sido lançada para as duas.
As férias chegaram, Dara ansiosa esperava por Liliana para partirem.
Assim que ela chegou, os pais de ambas se cumprimentaram e conversaram um pouco. Liliana se despediu dos seus pais e correu abraçada com Dara para arrumar a sua bagagem junto da dela no carro. E logo seguiram viagem até a nova cidade onde montariam um novo acampamento e a uma nova vivência aconteceria na vida de Liliana e Dara.


10 comentários:

  1. Muito bom, Drika!! Fiquei triste pelas duas, poxaaa

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  2. Achei lindo!
    Porém, tava esperando que a Liliana fosse pegar um cigano lindoo�� Novos tempos! Lu

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    1. Kkkkkk Luiza, aproveita tem outros que no final ficaram felizes para sempre. Obrigada!

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  3. Dri,seu conto muito sensível e delicado.O amor das duas meninas mostrado de uma forma bonita e natural.Que pena que não puderam curtir mais tempo esse amor.Parabéns, amiga! Mandando muito bem nas Letras!�������������������� Patrícia

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  4. Nossa! Gostei tanto que penso fazer um curta com sua história. Gostei demais do enredo e o final...bom o final a gente conversa por email. Um abraço! Parabéns . Marcosfree

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  5. Drika Linda!
    Escrever remete-nos a um mundo inimaginável , leva nossa alma onde o corpo não pode ir....
    Parabéns!

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    1. Obrigada querida, pela visita tão envolvida e os comentários!!❤️❤️🌹

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