HARPIAS E PÁGINAS EM BRANCO
Adriana Teixeira Simoni
Hoje, o tempo me permitiu concentrar-me num dos textos propostos no fórum , que vai justamente neste caso , discutir a angustia da página em branco, a angustia de não conseguir idéias contextualizadas para preencher uma página na composição de um texto.
Essa angústia, que confesso , muitas vezes me acompanha já não tão angustiante quanto os gritos incessantes das harpias citadas por Dante Alighieri, porém ainda os ouço, ora distantes ora tão próximos. que por mais que dedilhe letras no teclado já endurecido pelo uso e pelos constantes farelos de lanchinhos caídos intercalados com uma espiada ou outra nas minhas redes sociais, as palavras não desgrudam de minhas mãos. pois os gritos estão tão próximos que não consigo ouvir meu próprio pensamento com as idéias que deveriam cair sobre essa página em branco.
Quando ao longe se vão as harpias, já posso flutuar sobre o teclado com toques de eximia datilógrafa apesar de nunca ter sido, mas as idéias aparecem e vou colocando palavra após palavra e não é que depois, quando vou fazer a primeira revisão , percebo que se eu não tivesse escrito aquele texto , eu o escreveria.
Essa superação da “floresta das harpias” eu posso ecoar a todos aqui que foi vencida primeiramente pela necessidade imposta pelo meio acadêmico que iniciei tardiamente, mas antes tarde do que nunca, pois entre inúmeras atividades complementares possíveis de fazer, elegi como primeira ter um texto publicado, e para tanto o fiz sobre o assunto que eu melhor discorria, enviando-o para o melhor Jornal de minha cidade publicar. E não imaginam tamanha alegria que se apossou de mim, no dia em que vi exposto meu nome bem acima do texto naquele papel jornal onde figuravam tantas outras informações porém , eu naquele jubilado momento só conseguia ver meu nome figurando como autora. Se existe um portal para atravessar talvez tenha sido esse o meu.
Em segundo momento, descobri que escrever era uma forma de expressão que eu ainda não havia utilizado , como em épocas escolares iniciais sempre fui perseguida por dificuldades nessa disciplina o que sempre me impôs uma certa resistência a me expor desta forma e sendo assim, deixava que os uivos insanos das harpias na floresta angustiante da página em branco me atormentassem ao ponto de não expressar-me nem escrevendo e muito menos proferindo qualquer opinião, pois a timidez me consumia em suores e tremores e mais oprimida me sentia quando um colega levantava a mão e falava justamente o que eu pensava àquele respeito e ganhava as honras sobre o feito, e eu, apenas mais uma cicatriz guardaria por não conseguir me expressar mais uma vez.
Hoje atravessado esse portal, falo e expresso minhas idéias, muitas vezes até sinto o rubor de minha face, porém atiro-me um jarro de gelo seguindo em frente e logo percebo que o texto parecia bom, depois achei ruim, muitos gostaram e debateram, que bom! Mas eu também sei que muitos não gostaram, mas aí, me lembro também, que não gosto de muita coisa que leio e é assim que gira o mundo dos que superam as Harpias na floresta angustiante da página em branco.